sábado, 23 de abril de 2011

Quem disse que na Suíça não tem praia?

  Quem disse que na Suíça não tem praia? Tem sim! É só o inverno ir embora que todos correm para lá! Juro que me surpreendi quando escutei essa frase pela primeira vez, pois sempre soube que a Suíça não é um país banhado por oceano.

 Mas quem disse que tem que ter mar para as pessoas irem à praia? Quem pensou isso se enganou redondamente. Para os suíços basta apenas o sol aparecer que seus lagos viram quase a praia de Copacabana em um dia de domingo! No inverno eles servem de pista para patinação, e nas outras estações se transformam em praia.

 Realmente os lagos daqui são lindos. Muitas vezes os confundo com o mar, tendo em vista que muitos são super extensos e parecem não ter fim.

 Bom, tudo é lindo e maravilhoso, mas se você me perguntar se eu me arrisco a dar um mergulho, não poderei dizer outra coisa a não ser: ‘Estou fora!’. Não pense que eu nunca tentei... tentei sim... algumas poucas vezes, mas tentei. Ocorre que em todas as minhas tentativas meu cérebro e o meu corpo não se entenderam. Meu cérebro dizia: ‘Vai. Entra. Se joga, depois você se acostuma, depois o frio passa!’. Mas meu corpo o ignorava... fingia que não era com ele.

 O máximo que consegui foi molhar meus joelhos. Os motivos? Vários! Além da água ser um gelo, máximo 23°C no auge do verão e mesmo assim raramente, o fundo do lago é cheio de pedras! Você não sabe se sente dor ao pisá-las ou se sente nojo por causa do limo depositado em cima delas! Fora isso, dependendo do lago, você ainda tem que dividi-lo com os patos selvagens, que nessa época estão por toda parte. Eu não tenho nada contra eles, muito pelo contrário, acho que os lagos são deles e nós, seres humanos, é que deveríamos respeitá-los e deixá-los em paz. O problema é que o odor de suas necessidades fisiológicas deixadas na água invade as minhas narinas há três metros de distância! Tem gente que me acha exagerada, mas pra mim não dá. Tenho o meu limite. Já bastam os esportes radicais e perigosíssimos que tenho que praticar no inverno em favor da família!

 No meu primeiro verão suíço eu recebi a visita de uma tia muito querida. Quando ela me disse que viria, não pude deixar de encomendar uns modelitos novos de biquínis, uma vez que os daqui não me vestem bem, sobra muito pano. Ela trouxe! Um mais lindo que o outro. Na mesma semana fez aquele solzão e resolvi aproveitar para estrear minhas recentes aquisições. Escolhi o mais discreto... o de oncinha. Chamei uma amiga, arrumei as crianças e parti para o bronze! Chegando lá, me deparei com as suíças e seus enormes trajes de banho. Sério, sem deboche... me senti em pleno anos 50, devido ao tamanho deles! Já estava achando a situação engraçada, e pra completar minha amiga disse: ‘Meu filho chama os biquínis daqui de abafa-peido!’. Aí não deu pra agüentar... rimos incontrolavelmente! Mas o pior foi o seguinte: cadê a coragem pra me levantar da cadeira com o meu belo biquíni brasileiro? E olha que o meu é bem decente! Fiquei sentada o tempo todo e na mesma posição para não chocar ninguém.

 Agora, o que não dá para entender é que, apesar de usarem esses biquínis-sunga, elas fazem topless sem o menor pudor, e ainda depois de cada mergulho se trocam na frente de todos! Exatamente, ficam peladas e colocam um dos seus biquínis secos. Já pensou se essa moda pega no Brasil?

 Sei que a poluição é um grave problema que enfrentamos nas praias brasileiras, mas não as troco por nada! Amo sentar na areia de frente para o mar e admirar sua imensidão! Isso me dá uma sensação de pura liberdade. Olhar a linha do horizonte, ouvir o bater das ondas, dar aquele mergulho e sentir o cheiro da maresia... não tem preço! Sem falar na empadinha, que sempre passa na hora certa. Isso sim é um privilégio. Ai que saudade.


                                          Lago de Zurique




segunda-feira, 18 de abril de 2011

Sabor Suíço

Há algum tempo penso em criar um blog para poder compartilhar pensamentos, impressões e sensações vividas por mim no país do chocolate.
É claro que a Suíça é muito mais do que "o país do chocolate", mas, com certeza, essa é uma definição deliciosa que muitos já devem ter ouvido ou, quem sabe, 'provado'!

Posso dizer que nesses 2 anos que moro aqui, provo um pouquinho do sabor suíço a cada dia e a cada degustada eu me surpreendo mais.

Algumas vezes sinto um gosto doce irresistível que me faz pensar: 'Estou no lugar certo'. Porém, em algumas ocasiões experimento o verdadeiro sabor amargo, que me leva a fazer a angustiante pergunta: 'O que eu estou fazendo aqui?'. Confesso que não demoro muito para encontrar uma resposta, afinal, viver em um país onde a dignidade de cada pessoa é respeitada e vista como prioridade pelo governo é um privilégio.

A Suíça é um país incrível. Muitas vezes penso que estou em outro planeta, devido a forma de viver e de pensar dos cidadãos nativos. A mentalidade da sociedade é muito estranha se compararmos com a que temos no Brasil. 

Crianças vão dormir às 19 horas. As mães sempre estão em casa para receber seus filhos para o almoço e claro... com a comida pronta em cima da mesa às 12 horas, tudo feito por elas, pois empregada doméstica aqui é artigo de luxo. À noite os filhos são dos pais. Não importa para as suíças se eles trabalharam o dia todo, pois elas também trabalharam... em casa! E pasmem, mesmo cansados eles cuidam de seus filhos com prazer, pelo menos a maioria. 

Existe também outro modelo de família muito peculiar: o que a mulher sai para trabalhar, e a casa e os filhos ficam sob a responsabilidade do maridão. Isso ocorre quando a profissão da mulher é melhor remunerada. Conheço um casal que funciona assim, e acreditem: dá certo!

Claro que toda regra tem exceção, ainda mais quando falamos de nós, brasileiras casadas com suíços! Nossa mentalidade machista ou até mesmo super-protetora acaba dificultando a nossa própria vida. Ainda temos muito que aprender...

Meu filho vai para o jardim de infância depois das férias de verão e meu coração já está apertadinho, tendo em vista que na Suíça as crianças vão sozinhas para a escola! Sim, com apenas 4 aninhos elas vão caminhando sozinhas até a escola. Uma brasileira típica como eu só falta morrer quando pensa nessa possibilidade!

Se você um dia estiver aqui e vir uma mãe levando seu filho até a porta da escola e depois tentando dar uma espiadinha em sua cria pela janela... não tenha dúvida, ela é brasileira! =)

Prometo que me esforçarei para não fazer esse papelão, mas que eu não seguirei meu filho escondidinha até ele entrar na escola... aaahhhh... isso eu não posso garantir!